Na última semana, influenciadoras brasileiras compartilharam vídeos em que promoviam uma suposta “oportunidade de trabalho” na Rússia, oferecendo salários de até US$ 680 (R$ 3,6 mil, na cotação atual) por mês, com acomodação, passagens aéreas, seguro médico, “documentação garantida” e aulas de russo. O que parecia uma chance de ascensão profissional, no entanto, levava a um programa investigado internacionalmente por envolvimento em trabalho forçado e tráfico de pessoas.
A ‘vaga dos sonhos na Rússia’ também previa contratos de dois anos em áreas como hospitalidade, produção e logística e foi apresentada como parte do Start Program. No entanto, o site vinculado nas publicações direcionava para o Alabuga Start, uma iniciativa da Zona Econômica Especial de Alabuga, no Tartaristão, na região centro-oeste da Rússia. A organização já foi alvo de investigações da Interpol sob suspeita de tráfico humano.
Segundo relatórios internacionais, o programa recruta jovens da África, Ásia e América Latina, mas, na prática, envolve trabalho forçado na montagem de drones militares utilizados pela Rússia na guerra na Ucrânia. O público-alvo da campanha são mulheres de 18 a 22 anos, especialmente de países com altos índices de desemprego.
Relatório da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional (GI-TOC) aponta que a divulgação ocorre de forma massiva em redes sociais como TikTok, Telegram e Facebook, impulsionada por influenciadores contratados.
Entre os nomes brasileiros que participaram da campanha está a criadora de conteúdo Isabella Duarte, com 2,8 milhões de seguidores no Instagram. Diante da repercussão, ela se pronunciou nesta quinta-feira, 2: “Em primeiro lugar, queria deixar claro que todo o processo da campanha aconteceu dentro do que parecia ser normal”, declarou, afirmando que sua equipe analisou os documentos da empresa sem encontrar incoerências. Outras influenciadoras, como Catherine Bascoy e Aila Loures, retiraram as publicações após a repercussão negativa e se retrataram.
Mulheres recrutadas por meio do programa relataram à imprensa internacional que, ao chegarem na Rússia, eram obrigadas a montar milhares de drones de ataque projetados pelo Irã, usados pelo exército russo contra a Ucrânia. Algumas também eram destinadas a trabalhos de limpeza e serviços de buffet. A Associated Press revelou os casos em 2024, expondo o esquema que já havia atingido jovens de países africanos como Uganda, Ruanda, Quênia, Sudão do Sul, Serra Leoa e Nigéria, além do Sri Lanka.
Segundo o portal The Moscow Times, a região do Tartaristão abriga a maior produtora de drones militares da Rússia, sendo responsável por abastecer grande parte das forças armadas do país. O Terra procurou a Polícia Federal para confirmar se há inquérito no Brasil sobre a atuação da empresa. A PF, no entanto, não se manifestou.
Fonte: Portal Terra