Foto: William Werneck/Comlurb

Além da coleta feita pelos caminhões de lixo, as favelas situadas nos morros do Rio de Janeiro necessitam de um tipo específico de limpeza: garis alpinistas, treinados em técnicas de rapel, que descem as encostas onde são descartados até eletrodomésticos. Na capital, há 22 profissionais nessa função, entre eles uma mulher.

O trabalho teve início em 2015, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb). A equipe é treinada para acesso por corda e trabalho em altura, utilizando equipamentos de alpinismo, além de roçadeiras, foices e enxadas.

Moyses da Silva de Brito, de 37 anos, é o supervisor. Ele explica que os profissionais precisam ter um curso específico e certificação, que deve ser renovada a cada três anos. Existem três níveis de aprimoramento e, para exercer a função de supervisor, é necessário ter alcançado o terceiro nível.

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A atividade é tão séria que, no Brasil, existem apenas três empresas certificadoras. No Rio de Janeiro, os profissionais são certificados pela Associação Nacional das Empresas de Acesso por Corda e Resgate (ANEAC). A seguir, o supervisor da Comlurb detalha esse trabalho fascinante, que ele define como “quase um esporte”.

Como é o trabalho de limpeza nas encostar de morros?
Só para montar o equipamento, são duas horas. A gente chama de ancoragem: identificamos os pontos mais seguros e resistentes, que suportam mais de 1500 quilos. Acabou de montar, o supervisor passa a situação da encosta, os riscos.

Quais são os riscos?
Não são somente animais peçonhentos, mas pedras rochosas com quinas. A gente diz que elas estão “muito vivas”, ou seja, podem danificar a corda.

Os lixos são diferentes conforme a encosta?
No Cristo Redentor, como o pessoal vai a passeio, acabam colocando objetos como bolsa e chapéu nas muretas, para tirar foto. Aí o vento joga os objetos para a encosta. Oitenta por cento do lixo do Corcovado é vacilo de turista.

Por que o alpinista não sobe com o lixo?
A maior parte do trabalho é jogar o lixo pra baixo, para outra equipe recolher. Dá muito trabalho subir com o lixo, é arriscado, pesado: tem geladeira, sofá, você quase encontra uma casa mobiliada, ainda mais final de ano. Quando tem que subir com o lixo, o que seriam dois dias de trabalho, viram cinco ou mais.

Ser alpinista é melhor do que trabalhar no chão?
Muitas vezes a gente pega paisagens muito críticas, mas quando pega paisagens bonitas, como o Corcovado, acaba aproveitando um pouco. Mas é um trabalho com risco de queda o tempo todo, tem que ter equipamento, condições físicas e mentais.

Muitos garis querem ser alpinistas?
Tem gente querendo entrar, um vai passando a informação para o outro, a galera acaba gostando, não só pelo trabalho, é quase um esporte. Eles acabam me ligando, me pedem para colocar na equipe.

Como é o curso de formação?
A gente avalia a parte física, comportamental. São 32 horas de aulas práticas, oito horas de teóricas, depois prova escrita e prática. Tem que demonstrar o que aprendeu. No dia da avaliação, não pode cometer nenhuma falha.

Por que você virou alpinista?
A minha família toda é alpinista, tenho conhecimento de acesso por corda desde os 12 anos de idade. Um tio começou com essa profissão e vem trazendo para a família, tenho parentes alpinistas no Canadá, na Argentina.

Fonte: Terra

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