[Aviso: este texto aborda suicídio e pode ser gatilho para algumas pessoas. Caso se identifique ou conheça alguém que esteja passando por esse problema, disque: 188]
As vidas de todas as pessoas importam, independente da idade, raça, gênero ou orientação sexual. No entanto, é notável como certos grupos sociais estão mais vulneráveis, principalmente no quesito saúde mental. No caso dos idosos, esses impactos podem ser consolidados com a solidão, abandono e a falta de atenção às questões psicológicas que podem levar a um triste destino.
De acordo com o pesquisador Mark Salzer, professor de Ciências Comportamentais da Temple University, em entrevista à revista “STAT”, o número de pessoas idosas que tiram a própria vida vem crescendo com o passar dos anos. Somente nos Estados Unidos, 38.2 mortes em cada 100 mil são de homens entre 75 e 84 anos, provocadas por suicídio.
No Brasil, esse número também apresenta uma urgência para o combate à negligência com a saúde mental de vidas maduras. Segundo dados do site Our World in Data 2017, pessoas com a faixa etária entre 50 a 59 anos apresentam taxa de suicídio de 8,6 por 100 mil habitantes, e pessoas de 60 a 69 anos, registram 8,89 por 100 mil pessoas da região.
Em entrevista ao BNews Setembro Amarelo, a psicogeriatra, Dra. Ana Flávia Machado destacou a importância de lembrar que todas as vidas têm valor. “Para mim, o fundamental é iniciar desmistificando a ideia de que é durante a juventude que se vive. Ainda há muitas experiências novas, crescimento e alegrias para se experimentar em todas as idades. Vejo isso todos os dias em meus pacientes e familiares. Eu percebo que o amor à vida está muito relacionado ao reconhecimento de propósito em nossas vidas e essa é uma faixa em que se pode encontrar ou criar novos propósitos de forma livre e seguindo seus próprios valores. A valorização e a prevenção do suicídio começa resgatando e restruturando esse amor pela vida, melhorando a qualidade de vida e buscando felicidade em atividades prazerosas e conexões humanas”, relatou.
Do abandono aos transtornos psiquiátricos: o que leva tantos idosos ao limite
Durante a entrevista, a Dra. Ana Flávia destacou que a presença de transtornos psiquiátricos, como a depressão, é um dos principais fatores de risco que contribuem para o aumento dos casos. A profissional pontua outras questões que impactam nesse fatos, sendo elas:
solidão;
exclusão social;
fragilidade física;
percepção sobre o declínio de saúde;
surgimento de doenças.
“O fenômeno de isolamento social causado pela pandemia da covid-19 nos demonstrou com clareza o quanto a solidão é prejudicial à saúde mental. Diversos estudos conectaram a solidão com o aumento do risco para depressão, tentativas de suicídio, ansiedade e declínio cognitivo, especialmente em populações mais velhas”, refletiu.
Quando o silêncio comunica: para quais sinais os familiares e cuidadores devem se atentar
A psiquiatra destaca que é necessário observar o comportamento dos idosos e como certas mudanças podem indicar que algo pode estar afetando o psicológico dessas pessoas. A médica divide os sinais em diretos e indiretos e como eles podem se manifestar ao longo do tempo.
Sinais diretos
Comunicação explícita sobre tentativa de tirar a própria vida (por exemplo, falar sobre desejar morrer ou deixar bilhetes, cartas de despedida);
Preparação para o ato (como distribuir pertences, doar ou soltar animais de estimação ou organizar assuntos pessoais);
Busca ou uso recente de meios letais (como, por exemplo, comprar cordas, veneno para pragas ou armas de fogo).
Sinais indiretos
Aumento do uso de álcool ou outras substâncias.
Sentimentos de desesperança e falta de propósito, raiva ou irritabilidade.
Comportamentos impulsivos ou arriscados.
Sensação de estar preso sem saída.
Isolamento social ou retraimento de familiares e amigos.
Alterações abruptas de humor.
Perda de interesse em atividades habituais.
Distúrbios do sono (insônia ou hipersonia).
Expressões de culpa ou vergonha excessivas.
“O ideal, porém, é não deixar chegar a esses limites – e sim procurar ajuda profissional ao surgimento dos primeiros sinais depressivos”, reforçou a especialista.
Cuidar e previnir
A Dra. Ana Flávia Machado informa que as principais estratégias de prevenção e apoio psicológico estão ligadas, principalmente, à conectividade social e apoio emocional. “O ideal é a criação de uma comunidade – que pode ser feita através de atividades culturais, esportivas ou laborais. Gosto de recomendar aos meus pacientes práticas de exercício físico em grupos, aliando a necessidade de atividades para corpo e mente e os benefícios da socialização. É preciso combater a ideia de que é natural do idoso aposentado ‘ficar em casa descansando’. O cérebro precisa de socialização para se manter saudável e as pessoas precisam de um propósito para se manterem vivas. E claro, aos primeiros sinais de um transtorno psiquiátrico, procurar apoio psicológico e psiquiátrico imediatamente”, concluiu.
Fonte: Bnews